Diferenciais de mortalidade em um hospital filantrópico: a Santa Casa de Misericórdia de Campinas (1876-1885)
DOI:
https://doi.org/10.20947/s102-3098a0067Palavras-chave:
Mortalidade hospitalar, Diferenciais de mortalidade, Escravos, Santa Casa de MisericórdiaResumo
A partir da documentação das Matrículas de Enfermos e Relatórios dos Provedores da Santa Casa de Misericórdia de Campinas, traçamos o perfil dos atendidos e analisamos os diferenciais de mortalidade entre escravos e livres, brasileiros e estrangeiros nos primeiros anos de funcionamento desse hospital filantrópico. Os enfermos eram predominantemente homens em idade ativa, fortemente relacionados com a mão de obra disponível para comportar a expansão agrícola e dos serviços urbanos. Por meio de uma técnica de análise do diferencial de mortalidade baseada na decomposição de Oaxaca-Blinder, concluímos que, apesar de as características de escravos favorecerem um diferencial de mortalidade reduzido e de haver incentivos econômicos em seu tratamento, a mortalidade escrava foi superior possivelmente devido às condições de vida impostas pelo cativeiro. Entre a população livre, brasileiros apresentaram mortalidade superior à de estrangeiros. As hipóteses levantadas foram a procura tardia de auxílio por parte dos nacionais, diferenças na estrutura etária e a forte característica de sub-representação feminina na população estrangeira.
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