A penalidade pela maternidade: participação e qualidade da inserção no mercado de trabalho das mulheres com filhos
DOI:
https://doi.org/10.20947/s0102-3098a0090Palavras-chave:
mercado de trabalho, relações de gênero, filhosResumo
O objetivo deste artigo é analisar o impacto da presença e do número de filhos sobre a participação e a qualidade da inserção no mercado de trabalho das mulheres brasileiras. Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego para seis regiões metropolitanas foram empregados em modelos de regressão logística para avaliar se as mulheres com e sem filhos diferem em termos de probabilidades de participação no mercado de trabalho, precariedade da ocupação, jornada de trabalho parcial e trabalho autônomo. Os resultados para os homens são também analisados, como contraponto. A presença de filhos, em especial em idade pré-escolar, afeta significativamente a condição de inserção das mulheres no mercado de trabalho, diminuindo a probabilidade de participação e elevando as chances de trabalho precário, de jornada parcial e de trabalho autônomo. Para os homens, os resultados são menos consistentes e, muitas vezes, a presença de filhos não se mostra estatisticamente significativa. Chega-se à conclusão de que é necessário redefinir os papéis de gênero, de modo a acomodar os distintos papéis sociais desempenhados pelas mulheres, para que sejam atenuadas as penalidades a que estão submetidas quando buscam conciliar trabalho e família.
Downloads
Referências
ADLER, P.; ONER, O. Occupational class and the marriage premium: exploring treatment mechanisms. Los Angeles: UCLA Institute for Research on Labor and Employment, 2013. (Working Papers, 2013-3).
AHITUV, A.; LERMAN, R. How do marital status, work effort, and wage rates interact? Demography, v. 44, n. 3, p. 623-647, 2007.
ALVES, J. E. D. Desafios da equidade de gênero no século XXI. Revista Estudos Feministas, v. 24, n. 2, p. 629-638, 2016.
BECKER, G. S. A treatise on the family. Cambridge: Harvard University Press, 1991.
BRUSCHINI, M. C. A. Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, p. 537-572, 2007.
CAMARANO, A. A.; KANSO, S.; MELLO, J. L. Como vive o idoso brasileiro? In: CAMARANO, A. A. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004. p. 25-75.
CEPAL/PNUD/OIT. Emprego, desenvolvimento humano e trabalho decente: a experiência brasileira recente. Brasília: Cepal/PNUD/OIT, 2008.
CHIODO, A.; OWYANG, M. For love or money: why married men make more. The Regional Economist, Federal Reserve Bank of St. Louis, p. 10-11, Apr. 2002.
CHUN, H.; LEE, I. Why do married men earn more: productivity or marriage selection? Economic Inquiry, v. 39, n. 2, p. 307-319, 2001.
CIPOLLONE, A.; PATACCHINI, E.; VALLANTI, G. Women labor market participation in Europe: novel evidence on trends and shaping factors. Institute for the Study of Labor, 2013. (IZA Discussion Papers, n. 7710).
CORREL, S. J.; BENARD, S.; PAIK, I. Getting a job: is there a motherhood penalty? American Journal of Sociology, v. 112, n. 5, p. 1297-1339, 2007.
DEDECCA, C. S. Tempo, trabalho e gênero. In: COSTA, A. A. et al. Reconfiguração das relações de gênero no trabalho. 1. ed. São Paulo: CUT Brasil, 2004. p. 21-52.
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Pesquisa de Emprego e Desemprego: apresentação da base de dados metropolitana 2013. Sistema PED, 2013.
ENGLAND, P. The gender revolution: uneven and stalled. Gender & Society, v. 24, n. 2, p. 149-166, 2010.
ENGLAND, P. et al. Is the motherhood wage penalty worse at the top or bottom? In: POPULATION ASSOCIATIONS OF AMERICA ANNUAL MEETING, 2012, São Francisco, EUA. Proceedings [...]. Princeton: Princeton University, 2012. (Extended Abstract).
ENGLAND, P.; FOLBRE, N. Who should pay for the kids? The Annals of the American Academy of Political Science, v. 563, n. 1, p. 194-207, 1999.
FOLBRE, N. Should women care less? Intrinsic motivation and gender inequality. British Journal of Industrial Relations, v. 50, n. 4, p. 597-619, 2012.
GLAUBER, R. Marriage and the motherhood wage penalty among African Americans, Hispanics, and whites. Journal of Marriage and Family, v. 69, n. 4, p. 951-961, 2007.
GOLDANI, A. M. Relações intergeracionais e reconstrução do Estado do Bem-Estar: por que se deve repensar essa relação para o Brasil? In: CAMARANO, A. A. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004. p. 211-250.
GOLDIN, C. The quiet revolution that transformed women’s employment, education, and family. The American Economic Review, v. 96, n. 2, p. 1-21, 2006.
GOLDSCHEIDER, F.; BERNHARDT, E.; LAPPEGARD, T. The gender revolution: a framework for understanding changing family and demographic behavior. Population and Development Review, v. 41, n. 2, p. 207-239, 2015.
GOUGH, M.; NOONAN, M. A review of the motherhood wage penalty in the United States. Sociology Compass, v. 7, n. 4, p. 328-342, 2013.
GUIGINSKI, J. T. O prêmio salarial masculino do casamento. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
GUIMARÃES, N. A. A igualdade substantiva e os novos desafios nas relações de gênero no trabalho. Revista Estudos Feministas, v. 24, n. 2, p. 639-643, 2016.
GUIMARÃES, R. R. M.; FÍGOLI, M. G. B.; OLIVEIRA, A. M. H. C. Permanência na precariedade e no trabalho decente: um modelo multiestado para as transições segundo a qualidade da ocupação para o Brasil Metropolitano (2003-2007). In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 17., 2010, Caxambu, MG. Anais [...]. Caxambu: Abep, 2010.
HIRATA, H. O universo do trabalho e da cidadania das mulheres – um olhar do feminismo e do sindicalismo. In: COSTA, A. A. et al. Reconfiguração das relações de gênero no trabalho. 1. ed. São Paulo: CUT Brasil, 2004. p. 13-20.
HIRATA, H. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Revista Tecnologia e Sociedade, v. 6, n. 11, 2010.
HIRATA, H.; KERGOAT, D. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 137, p. 595-609, 2007.
KILLEWALD, A.; GOUGH, M. Does specialization explain marriage penalties and premiums? American Sociological Review, v. 78, n. 3, p. 477-502, 2013.
KORENMAN, S.; LIAO, M.; O’NEILL, J. Gender differences in time use and labor market outcomes. In: AMERICAN TIME USE SURVEY EARLY RESULTS CONFERENCE. Proceedings […]. Maryland: Maryland University Research Center, 2005.
KUHHIRT, M.; LUDWIG, V. Domestic work and the wage penalty for motherhood in West Germany. Journal of Marriage and Family, v. 74, n. 1, p. 186-200, 2012.
LEE, S.; MCCANN, D.; MESSENGER, J. C. Duração do trabalho em todo o mundo: tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada. Genebra; Brasília: OIT, 2009.
LONG, J. S. Regression models for categorical and limited dependent variables. Londres: SAGE Publications, 1997.
MADALOZZO, R.; MARTINS, S. R.; SHIRATORI, L. Participação no mercado de trabalho e no trabalho doméstico: homens e mulheres têm condições iguais? Revista Estudos Feministas, v. 18, n. 2, p. 547-566, 2010.
MALONEY, W. F. Does informalit imply segmentation in urban labor markets? Evidence from sectoral transitions in Mexico. The World Bank Economic Review, v. 13, n. 2, p. 275-302, 1999.
MARON, L.; MEULDERS, D. Having a child: a penalty or bonus for mother’s and father’s employment in Europe? Universite Libre de Bruxelles, 2008. (DULBEA Working Papers, n. 08-05.RS).
MARRI, I. G.; WAJNMAN, S. Esposas como principais provedoras de renda familiar. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 24, n. 1, p. 19-35, 2007.
MEDEIROS, M. A transposição de teorias sobre a institucionalização do Welfare State para o caso dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Ipea, 1999 (Texto para Discussão, n. 695).
MEIER, A. et al. A well-being penalty for working mothers? Parental work arrangements and maternal well-being in two-parent families. In: POPULATION ASSOCIATIONS OF AMERICA ANNUAL MEETING, 2014, Boston, EUA. Proceedings [...]. Princeton: Princeton University, 2014.
MONTALI, L. Desigualdades de gênero no mercado de trabalho e as políticas sociais. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 18., 2012, Águas de Lindoia, SP. Anais [...]. Águas de Lindóia: Abep, 2012.
MONTALI, L.; TAVARES, M. Famílias metropolitanas: precarização do trabalho e empobrecimento. In: SEMINÁRIO POPULAÇÃO, POBREZA E DESIGUALDADE. Belo Horizonte, MG, 2007.
MUNIZ, J. O.; RIOS-NETO, E. L. G. Diferenciais salariais por estado civil e sexo: uma análise de gênero sobre o prêmio do casamento. In: MUNIZ, J. O. Demografia econômica: aplicações macro e micro ao caso brasileiro. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. p. 48-79.
NONATO, F. et al. O perfil da força de trabalho brasileira: trajetórias e perspectivas. Boletim Mercado de Trabalho – conjuntura e análise (Notas Técnicas), n. 51, p. 29-41, 2012.
OFFER, S.; SCHNEIDER, B. Revisiting the gender gap in time-use patterns: multitasking and well-being among mothers and fathers in dual-earner families. American Sociological Review, v. 76, n. 6, p. 809-833, 2011.
OKIN, S. M. Gênero, o público e o privado. Revista Estudos Feministas, v. 16, n. 2, p. 305-332, 2008.
OIT – Organização Internacional do Trabalho. Perfil do trabalho decente no Brasil. Brasília: Genebra: OIT, 2009.
OIT – Organização Internacional do Trabalho. Perfil do trabalho decente no Brasil: um olhar sobre as Unidades da Federação. Brasília: OIT, 2012.
REIS, M.; COSTA, J. Jornada de trabalho parcial no Brasil. Mercado de Trabalho: conjuntura e análise, n. 61, p. 33-40, 2016.
RIVERO, P. S. Trabalho: opção ou necessidade? Um século de informalidade no Rio de Janeiro. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009. (Coleção Trabalho & Desigualdade, 8)
SCORZAFAVE, L. G.; MENEZES-FILHO, N. A. A participação feminina no mercado de trabalho brasileiro: evolução e determinantes. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 31, n. 3, p. 441- 478, 2001.
SORJ, B.; FONTES, A.; MACHADO, D. C. Políticas e práticas de conciliação entre família e trabalho no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 137, p. 573-594, 2007.
SOUZA, L. R.; RIOS-NETO, E. L. G.; QUEIROZ, B. L. A relação entre parturição e trabalho feminino no Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 28, n. 1, p. 57-79, 2011.
ULYSSEA, G. Informalidade no mercado de trabalho brasileiro: uma resenha da literatura. Revista de Economia Política, v. 26, n. 4, p. 596-618, 2006.
WAJNMAN, S. Mulheres na sociedade e no mercado de trabalho brasileiro: avanços e entraves. In: PORTO, M. Olhares femininos, mulheres brasileiras. Rio de Janeiro: X Brasil, 2006. p. 77-108.
WAJNMAN, S. Relações familiares e diferenciais de rendimentos por sexo no Brasil. In: TURRA, C. M.; CUNHA, J. M. P. da. População e desenvolvimento em debate: contribuições da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Belo Horizonte: Abep, 2012. p. 187-192.
WAJNMAN, S. “Quantidade” e “qualidade” da participação das mulheres na força de trabalho brasileira. In: ITABORAI, N. R.; RICOLDI, A. M. Até onde caminhou a revolução de gênero no Brasil? Belo Horizonte: Abep, 2016. p. 45-58.
WALDFOGEL, J. Understanding the “family gap” in pay for women with children. Journal of Economic Perspectives, v. 12, n. 1, p. 137-156, 1998.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os artigos publicados na Rebep são originais e protegidos sob a licença Creative Commons do tipo atribuição (CC-BY). Essa licença permite reutilizar as publicações na íntegra ou parcialmente para qualquer propósito, de forma gratuita, mesmo para fins comerciais. Qualquer pessoa ou instituição pode copiar, distribuir ou reutilizar o conteúdo, desde que o autor e a fonte original sejam propriamente mencionados.