Imigração, fronteiras étnicas e sociabilidades: questões teóricas
DOI:
https://doi.org/10.20947/S0102-3098a0121Palavras-chave:
imigração, etnicidade, sociabiliade, geração, sexualidade, comportamentos reprodutivosResumo
O texto tem como referência sujeitos agrupados social e culturalmente a partir de um processo de emigração/imigração, cujas estruturas remontam às sociedades emissoras. Transcendendo o estabelecimento no município de Curitiba, Paraná, o grupo transforma-se gradativamente em contato com a sociedade brasileira e com outros agrupamentos de origem imigrante, erigindo fronteiras étnicas. Um dos direcionamentos da investigação foi conduzido por análises de comportamentos reprodutivos dos imigrantes e descendentes. O objetivo, neste estágio, é ultrapassar o porquê para tentar resolver o problema do como, apesar da ausência de documentação “qualitativa” que permitiria discernir a intimidade dos casais amostrados. Desse modo, colocam-se algumas questões teórico-metodológicas considerando o papel dos indivíduos, no âmbito do conceito das sociabilidades. Ou seja, na esfera das relações indivíduo-sociedade, investiga-se quais seriam as variáveis teóricas que poderiam ajudar a entender o que os números parecem denunciar. Para isso, consideram-se as relações interpessoais – incluindo o convívio intra e intergeracional – nos limites das mencionadas fronteiras. Com essa finalidade, a análise privilegia contextos que permitem
sintetizar a dinâmica da etnicidade. Igualmente, propõe-se um balanço teórico-metodológico tendo como foco as minhas pesquisas, orientadas, num sentido epistemológico mais lato, por estudos “demográficos”; os dados de base foram amostrados a partir da metodologia da reconstituição de famílias.
Downloads
Referências
ADLER, L. Segredos de alcova: história do casal de 1830 a 1930. Lisboa: Terramar, 1990.
ANDREAZZA, M. L. Paraíso das delícias: estudo de um grupo imigrante ucraniano. 1895-1995. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1996.
ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. O cenário da colonização no Brasil Meridional e a família imigrante. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 11, n. 1, p. 61-87, jan./jun. 1994.
ARIÈS, P. A contracepção no passado. Amor e sexualidade no Ocidente. Edição especial da Revista L’Histoire/Seuil. Porto Alegre: L&PM, 1992. p. 97-111.
BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998. p. 187-227.
BIDEAU, A.; NADALIN, S. O. Étude de la fécondité d’une communauté évangélique luthérienne à Curitiba (Brésil) de 1866 à 1939. Population, v. 43, n. 6, p. 1035-1064, Nov./Dec. 1988.
BIDEAU, A.; NADALIN, S. Une communauté allemande au Brésil. De l’immigration aux contacts culturels, XIXe-XXe siècle. Paris: Ined, 2011.
BÖBEL, M. T.; THIAGO, R. S. Joinville, os pioneiros: documentos e história – 1851 a 1866. Joinville: Ed. Univille, 2001.
BRAUDEL, F. Histoire et sciences sociales; la longue durée. In: BRAUDEL, F. Écrits sur l’Histoire. Paris: Flammarion, 1969. p. 41-83.
BUENO, A. M. Representações discursivas do imigrante a partir de 1945. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2011.
BURGUIÈRE, A. Les rapports entre générations: un problème pour l’historien. Communications, n. 59, p. 15-27, 1994.
CAMARGO, C. P. F. de. A dinâmica populacional como processo histórico-social. In: SANTOS, J.; LEVY, M. S. F.; SMERECZÁNYI, T. (org.). Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiros, 1980. p. 12-18.
COLOGNESE, S. A. Gerações, fronteiras e italianidade no Sul do Brasil. Tempo da Ciência, v. 18, n. 36, p. 137-152, 2º semestre 2011. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/tempodaciencia/article/view/9049. Acesso em: 5 ago. 2019.
COONTZ, S. Historia del matrimonio: como el amor conquisto el matrimonio. Barcelona: Gedisa, 2006.
CORBIN, A. A pequena Bíblia dos jovens nubentes. Amor e sexualidade no Ocidente. Edição especial da Revista L’Histoire/Seuil. Porto Alegre: L&PM, 1992. p. 201-211.
CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. 2. ed. Bauru: Edusc, 2002.
DEL PRIORE, M. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005.
DICIONÁRIO Demográfico multilingue. [Rio de Janeiro]: Fundação IBGE, 1969. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv14136.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019.
ENGEL, M. O médico, a prostituta e os significados do corpo. In: VAINFAS, R. (org.). História e sexualidade no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. 169-190.
FABRIS, P. “Nós, os selvagens, não reverenciamos os symbolos kayserianos”: conflitos em torno de uma identidade germânica em Curitiba (1890-2014). Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2014.
FLANDRIN, J.-L. Um temps pour embrasser: aux origines de la morale sexuelle occidentale (VIe-XIe siécle). Paris: Seuil, 1983.
FONSECA, F.; LUCAS, M. C. Sexualidade, saúde e contextos: influência da cultura e etnia no comportamento sexual. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, v. 25, n. 1, p. 65-72, 2009. Disponível em: http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10592. Acesso em: 18 abr. 2019.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: I. A vontade de saber. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1977.
GARNIER, P. O matrimônio: considerado nos seus deveres, relações e effeitos conjugaes do ponto de vista legal, hygienico, phisiologico e moral. Rio de Janeiro/Paris: Garnier, s/d.
GARNIER, P. A geração universal: leis, segredos e mysterios no homem e na mulher. Rio de Janeiro/Paris: Garnier, s/d.
GAY, P. A experiência burguesa da Rainha Vitória a Freud: a educação dos sentidos. São Paulo: Cia. das Letras, 1988.
GREEN, N. Tempo e estudo da assimilação. Antropolítica, n. 25, p. 23-47, 2º sem. 2008.
HALBWACHS, M. Morphologie sociale. 1938. Disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Halbwachs_maurice/morphologie/morphologie.html. Acesso em: 04 jun. 2018.
HANSEN, M. L. The problem of the third generation immigrant. Rock Island: Augustana Historical Society Publications, 1938. Disponível em: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=inu.30000118510415;view=1up;seq=5. Acesso em: 05 ago. 2019.
HARDIN, G. (org.). População, evolução e contrôle da natalidade. São Paulo: Editora Nacional, 1967.
HEILBORN, M. L. Construção de si, gênero e sexualidade. In: HEILBORN, M. L. (org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
HEILBORN, M. L.; BRANDÃO, E. R. Ciências sociais e sexualidade. In: HEILBORN, M. L. (org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
HENRY, L. Manuel de démographie historique. Genève-Paris: Droz, 1970.
HOBSBAWM, E. J. A era dos impérios: 1875-1914. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
HUBER, V. A literatura da imigração alemã e a imagem do Brasil. Disponível em: http://www.letras.ufrj.br/liedh/media/docs/art_valb2.pdf. Acesso em: 12 jul. 2019.
KREAGER, P. Demographic regimes as cultural systems. In: COLEMAN, D.; SCHOFIELD, R. The state of population theory. Londres: Oxford Basil Blackwell Ltda., 1986.
LAPIERRE, J.-W. Prefácio. In: POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998.
LAQUEUR, T. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
LOYOLA, M. A. A sexualidade como objeto de estudo das ciências humanas. In: HEILBORN, M. L. (org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 31-39.
LUTERO, M. Obras selecionadas. Ética: fundamentos – oração – sexualidade – educação – economia, v. 5. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2011.
MACFARLANE, A. História do casamento e do amor: Inglaterra, 1300-1840. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
MACHADO, C. da S.; NADALIN, S. O. Memória individual e discurso social; Curitiba na passagem do século XIX para o século XX (posfácio). In: STROBEL, G. H. Memórias de Gustav Hermann Strobel: relatos de um pioneiro da imigração alemã no Brasil. 3. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2018. p. 193-219.
MAGALHÃES, M. D. B. de. Pangermanismo e nazismo: a trajetória alemã rumo ao Brasil. Campinas: Edit. Unicamp/Fapesp, 1998.
MAGALHÃES, M. D. B. de; NADALIN, S. O. Imigração germânica, etnicidade e identidade ocupacional/profissional. Colonização em Joinville (Dona Francisca), Província de Santa Catarina. História, v. 38, e2019014, 2019.
MANNHEIM, K. O problema sociológico das gerações. In: FORACCHI, M. M. (org.). Mannheim. São Paulo: Ática, 1982.
MANTEGAZZA, P. O amor dos homens: ensaio de uma ethnologia do amor. Lisboa: Tavares Cardoso & Irmão, 1904.
MCLAREN, A. História da contracepção da antiguidade à actualidade. Lisboa: Terramar, 1997.
MOTTA, A. B. da. Gêneros, idades e gerações; introdução. Cadernos CRH, Salvador, v. 17, n. 42, p. 349-355, set./dez. 2004.
MÜLLER, G. A. Liebe-Ehe-Schlafgemach: sexual-ästhetische Gedanken und Raschläge. Berlin: Dr. Basch & Co. G.m.b.H., s/d.
MURSTEIN, B. Amor, sexo e casamento através dos tempos. v. 3. Rio de Janeiro: Artenova, 1978.
NADALIN, S. O. Clube Concórdia. Curitiba: Clube Concórdia, 1972.
NADALIN, S. O. Une paroisse d’origine germanique au Brésil: la Communauté Évangelique Luthérienne a Curitiba entre 1866 et 1969. Doctorat 3e Cycle, Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, 1978.
NADALIN, S. O. Imigrantes alemães e descendentes em Curitiba; caracterização de um grupo social. História: Questões & Debates, v. 2, n. 2, p. 23-35, jun. 1981.
NADALIN, S. O. Sexualidade, casamento e reprodução. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 5, n. 2, p. 63-91, jul./dez. 1988.
NADALIN, S. O. História e demografia: elementos para um diálogo. Campinas: Abep, 2004.
NADALIN, S. O. Imigração e família, segunda metade do século XIX. Revista Latinoamericana de Población, v. 8, n. 14, p. 31-55, enero-junio 2014.
NADALIN, S. O. A respeito de uma demografia histórica de contatos culturais. Cadernos de História, v. 9, n. 11, p. 11-31, 1º sem. 2007. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/2880. Acesso em: 05 ago. 2019.
NADALIN, S. O. Sociabilidades e sexualidade; o enclave imigrante germânico em Curitiba: 1866-1894. In: DORÉ, A.; RIBEIRO, L. C. (org.). O que é sociabilidade. São Paulo: Intermeios, 2019. p. 163-182.
NADALIN, S. O.; FABRIS, P. A comunidade alemã em Curitiba e a conjuntura da Primeira Grande Guerra. Revista de História Regional, v. 18, n. 1, p. 7-30, 2013. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/viewFile/5130/3511.
OLIVEIRA, J. et al. Padrão hormonal feminino: menopausa e terapia de reposição. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 48, n. 3, p. 198-210, 2016. Disponível em: http://www.rbac.org.br/wp-content/uploads/2016/11/ARTIGO-3_RBAC-48-3-2016-ref.-20.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019.
POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998.
PRIEN, H.-J. Formação da Igreja Evangélica no Brasil: das comunidades teuto-evangélicas de imigrantes até a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2001.
RESSEL, L. B.; GUALDA, D. M. R. A sexualidade como uma construção cultural: reflexões sobre preconceitos e mitos inerentes a um grupo de mulheres rurais. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 37, n. 3, p. 82-87, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v37n3/10.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019.
RIBEIRO, B. Protestantismo no Brasil Monárquico, 1822-1888: aspectos culturais de aceitação do protestantismo no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1973.
ROHDEN, F. A arte de enganar a natureza: contracepção, aborto e infanticídio no início do século XX. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
SAHLINS, M. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
SCHWARCZ, L. M. Marshall Sahlins ou por uma antropologia estrutural e histórica. Cadernos de Campo, v. 9, n. 9, p. 125-133, 2000.
SEGALEN, M. Sociologie de la famille. Paris: A. Colin, 1993.
SEYFERTH, G. Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1981.
SEYFERTH, G. A identidade teuto-brasileira numa perspectiva histórica. In: MAUCH, C.; VASCONCELLOS, N. (org.). Os alemães no Sul do Brasil. Canoas: Editora Ulbra, 1994. p. 11-27.
SEYFERTH, G. A conflituosa história da formação da etnicidade teuto-brasileira. In: FIORI, N. A. (org.). Etnia e educação: a escola “alemã” do Brasil e estudos congêneres. Florianópolis: Ed. da UFSC; Tubarão: Editora Unisul, 2003.
SEYFERTH, G. A idéia de cultura teuto-brasileira: literatura, identidade e os significados da etnicidade. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 149-147, jul./dez. 2004.
SHORTER, E. Female emancipation, birth control, and fertility in European history. The American Historical Review, v. 78, n. 3, p. 607-640, June 1973.
SHORTER, E. A formação da família moderna. Lisboa: Terramar, 1995.
SILVEIRA, E. A cura da raça: eugenia e higienismo no discurso médico sul-rio-grandense nas primeiras décadas do século XX. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2005.
SIMMEL, G. Questões fundamentais da Sociologia: indivíduo e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
SOARES, L. C. Da necessidade do bordel higienizado; tentativas de controle da prostituição carioca no século XIX. In: VAINFAS, R. (org.). História e sexualidade no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. 143-168.
STEARNS, P. N. História da sexualidade. São Paulo: Contexto, 2010.
STEPAN, N. L. “A hora da eugenia”: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
STOPES, M. C. Amor e casamento: nova contribuição para a solução do problema sexual. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1929.
STOPES, M. C. Procreação racional. Complemento pratico da obra “Amor e Casamento”. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1929.
STROBEL, G. H. Memórias de Gustav Hermann Strobel: relatos de um pioneiro da imigração alemã no Brasil. Curitiba: Instituto Memória, 2018.
SURBLED, G. A moral nas suas relações com a medicina e a higiene. 4 v. Porto: Editora Educação Nacional, 1939/1940.
TANNAHILL, R. Le sexe dans l’Histoire. Paris: Robert Laffont, 1982.
TRINDADE, E. M. de C. Clotildes ou Marias: mulheres de Curitiba na Primeira República. Curitiba: Fundação Cultural, 1996.
WACHTEL, N. L’aculturation. In: LE GOFF, J.; NORA, P. Faire l’histoire, t. 1: Nouveaux problèmes. Paris: Gallimard, 1974.
WILLEMS, E. A aculturação dos alemães no Brasil. Estudo antropológico dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1980.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os artigos publicados na Rebep são originais e protegidos sob a licença Creative Commons do tipo atribuição (CC-BY). Essa licença permite reutilizar as publicações na íntegra ou parcialmente para qualquer propósito, de forma gratuita, mesmo para fins comerciais. Qualquer pessoa ou instituição pode copiar, distribuir ou reutilizar o conteúdo, desde que o autor e a fonte original sejam propriamente mencionados.